Reabilitação infantil: como funciona o tratamento da espasticidade em crianças?

Entenda as principais formas de tratamento pensados para a qualidade de vida dos pequenos

A espasticidade é uma condição neurológica, considerada um distúrbio do movimento frequente, que se manifesta clinicamente a partir do aumento no tônus muscular. Essa condição pode afetar significativamente o desenvolvimento motor, trazendo desafios tanto para as próprias crianças quanto para suas famílias e cuidadores¹.

Em crianças, especialmente aquelas que sofreram danos ao Sistema Nervoso Central durante o período pré, peri ou pós-natal, a espasticidade pode interferir nas funções básicas do desenvolvimento neuropsicomotor (DNPM), que consiste na aquisição progressiva de habilidades à medida que os anos vão passando. Isso inclui dificuldades em alcançar marcos importantes, como o controle da sustentação da cabeça, o ato de rolar, sentar-se sem apoio, engatinhar e andar².

Também pode levar a deformidades ortopédicas, prejudicar a função manual e o aprendizado motor, contribuir para dores crônicas e afetar o controle postural e a mobilidade². Por isso, compreender essa condição e as opções de tratamento disponíveis é essencial para melhorar a qualidade de vida das crianças que convivem com ela.

Como identificar a espasticidade?

Os primeiros anos de vida são cruciais para o desenvolvimento motor. Por isso, é importante que os familiares e cuidadores estejam atentos aos marcos de desenvolvimento da criança.

No entanto, é fundamental que qualquer suspeita seja avaliada por um médico especializado, que poderá orientar sobre os próximos passos e a necessidade de exames adicionais.

Principais causas e diagnóstico da espasticidade infantil

Diversos fatores podem ser considerados causas da espasticidade infantil – todos eles de alguma forma afetam o cérebro e a medula espinhal, resultando na rigidez muscular característica da espasticidade. São eles:

  • AVC
  • Lesões hipóxicas-isquêmicas (falta de oxigênio no cérebro durante o parto)
  • Doenças infecciosas e/ou inflamatórias
  •  Tumores
  • Traumas na região da cabeça

O diagnóstico da espasticidade envolve uma combinação de histórico clínico, exames neurológicos e fisiátricos, testes padronizados e exames de imagem. Para avaliar a funcionalidade, são levados em consideração alguns sistemas de classificação específicos, como o GMFCS (Sistema de Classificação da Função Motora Grossa) e o MACS (Sistema de Classificação da Habilidade Manual)7.

Uma equipe multiprofissional também é de extrema importância, pensando em uma abordagem biopsicossocial, uma perspectiva multidisciplinar que compreende as extensões biológicas, psicológicas e social do paciente⁵.

Tratamento multidisciplinar e personalizado

O tratamento da espasticidade é multidisciplinar e personalizado para atender às necessidades específicas de cada criança, sendo comumente dividido em⁶:

  1. Reabilitação e terapias físicas: uso de órteses, equipamentos para a reeducação neuromotora e estimulação elétrica funcional são alguns dos métodos usados para a evolução da capacidade funcional.
  1. Medicações: o uso de medicamentos injetáveis podem ser uma opção de tratamento da espasticidade ao atuarem no relaxamento dos músculos e melhoria da mobilidade. Em alguns casos, medicamentos orais também podem ser prescritos para complementar o tratamento.
  1. Cirurgias: quando a espasticidade causa contraturas musculares permanentes, que não respondem ao tratamento conservador, algumas cirurgias podem ser indicadas, visando aliviar a rigidez muscular e melhorar a função motora.

A influência dos pais e cuidadores no processo de reabilitação infantil

O apoio dos pais e cuidadores é crucial para que o processo de reabilitação seja o mais acolhedor possível. Participar ativamente do programa de reabilitação, encorajar o(a) pequeno(a) paciente e seguir as orientações dos profissionais de saúde em casa, preparam a criança espástica para a vida em comunidade.

Além disso, o suporte do serviço social e psicológico para a família é essencial, ajudando a lidar com os desafios diários e garantindo que a espasticidade não limite a felicidade e o desenvolvimento pleno dos jovens em tratamento.

Referências:

1. Ministério da Saúde. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/pcdt/arquivos/2022/portal-portaria-conjunta-no-5-pcdt_espasticidade.pdf

Acesso em: 30/08/2024.

2. Observatório da Saúde da Criança e do Adolescente. Disponível em: https://www.medicina.ufmg.br/observaped/atraso-do-desenvolvimento-neuropsicomotor-adnpm/#:~:text=O%20desenvolvimento%20neuropsicomotor%20(DNPM)%20consiste,determinada%20habilidade%20na%20idade%20esperada. Acesso em: 30/08/2024.

 3. Academia Brasileira de Neurologia. Disponível em https://abneuro.org.br/2024/01/16/marcos-do-desenvolvimento-infantil-2/. Acesso em: 09/09/24

4. Ministério da Saúde. Disponível emhttps://www.gov.br/conitec/pt-br/midias/protocolos/resumidos/20230106_PCDT_Resumido_Espasticidade_final.pdf. Acesso em: 09/09/24

5. Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Disponível em: https://posdigital.pucpr.br/blog/modelo-biopsicossocial#:~:text=descobrir%20a%20seguir.-,O%20que%20%C3%A9%20o%20modelo%20biopsicossocial,estar%20no%20organismo%20do%20paciente.

Acesso em: 30/08/2024.

6. Associação Médica Brasileira e Conselho Federal de Medicina. Disponível em: https://amb.org.br/files/_BibliotecaAntiga/espaticidade.pdf. Acesso em: 09/09/24

7. Chagas, P., Defilipo, E., Lemos, R., Mancini, M., Frônio, J., & Carvalho, R.. (2008). Classificação da função motora e do desempenho funcional de crianças com paralisia cerebral. Brazilian Journal of Physical Therapy, 12(5), 409–416. https://doi.org/10.1590/S1413-35552008000500011

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